Fla vence e assume a vice-liderança do brasileirão

Em partida atrasada válida pela 23º rodada do Campeonato Brasileiro, o Flamengo superou o Grêmio, de virada, fora de casa pelo placar de 4×2. Os gols do mengão foram marcados por Everton Ribeiro, Gabigol, Arrascaeta e Isla, todos na segunda etapa. Com os três pontos conquistados, o Rubro-Negro assume a vice-liderança da competição e fica quatro pontos do líder Internacional, botando fogo na disputa pelo título. Os dois times ainda farão um confronto direto, na penúltima rodada, no Maracanã.

Na caça ao líder e em busca do bicampeonato nacional, o Flamengo vai tentar, nessa reta final, emplacar uma sequência de vitórias na competição. O próximo adversário será o Sport, na próxima segunda (01/02), na Ilha do Retiro. Depois vem o clássico diante do Vasco no Maracanã (04/02) e Bragantino no Abi Abi Chedid (07/02), fechando os três próximos compromissos do Rubro-Negro no campeonato.

Gabigol protagonista mais uma vez
Gabigol comemora seu gol na partida de ontem (Foto: Reprodução/Facebook Flamengo).

Se pelo lado do tricolor gaúcho brilhou Diego Souza, do lado de cá quem brilhou foi o atacante Gabiel Barbosa, autor de um gol e duas assistências na partida. Com os números, Gabigol chega a 22 gols na temporada 2020 e passa a ser o artilheiro do time, ao lado de Pedro. Além dos tentos, o camisa nove da gávea soma 12 assistências na temporada e é o maior garçom do time. Ao todo, Gabigol soma 65 gols e 23 assistências em 96 jogos com a camisa do Flamengo.

O rei da lei do ex

Revelado pelo Fluminense em 2003, Diego Souza é um grande conhecido da torcida carioca. O jogador já vestiu a camisa dos quatro principais clubes da cidade: Flu (2003/2004/2005/2016), Fla (2005/2006) Vasco (2011/12) e Bota (2019). Ao longo dos anos que jogou no Rio, Diego marcou gols, deus assistências e conquistou títulos.

Mas parafraseando o pensador Augusto dos Anjos, “O pé que afaga é o mesmo que apedreja”, (do original ‘A mão que afaga é a mesma que apedreja”), Diego Souza fez chorar as mesmas torcidas que um dia já fez sorrir. O camisa nove, só vestindo a camisa do Grêmio, já balançou as redes contra todos os rivais cariocas na temporada 2020. Na noite de ontem (28/01), a vítima da vez foi o Flamengo, que levou logo dois gols do artilheiro. Com esses números, Diego Souza recebe o título simbólico de “Rei da Lei do Ex”.

25 anos do segundo título brasileiro do botafogo

Há exatos 25 anos, o Botafogo de Futebol e Regatas escrevia um dos capítulos mais bonitos de sua gloriosa história: a conquista do Campeonato Brasileiro de 1995. O título, o segundo do clube devido ao reconhecimento do Torneio Roberto Gomes de Pedrosa (Taça Brasil) em 2010, marcou um período de muita dificuldade e superação -dentro e fora de campo- do time carioca. O momento era tão delicado que nos cabe aqui uma leve comparação com o quadro atual do clube.

Em termos de título, o Botafogo de 95 vivia um jejum de apenas dois anos, uma vez que havia sido campeão da Copa Commebol, em 1993. Em competições regionais, o jejum era de cinco anos. A última conquista do Cariocão havia sido em 1990. Se o jejum do Campeonato Carioca é menor em 2020 (apenas dois anos), o cenário muda quando se fala em competições nacionais e internacionais. Isso porque a última grande conquista do Botafogo foi justamente o Brasileiro de 1995.

Falta de dinheiro, elenco sob desconfiança e uma diretoria desacreditada são outras semelhanças que aproximam os dois momentos do clube de General Severiano. Mas, diferente do que se acompanha hoje, toda desconfiança por parte da torcida foi sendo eliminada na medida que o clube vencia e convencia dentro de campo, realidade diferente do time que hoje está na zona de rebaixamento do Brasileirão e que a cada rodada deixa o seu torcedor mais convictos de uma nova queda para a segunda divisão.

O Botafogo da década de 90

A década de 90 representou um dos momentos mais delicados em termos financeiros para o Botafogo desde a sua fundação até os dias de hoje. Salários atrasados, falta de patrocinadores e até mesmo de material de treino são exemplos de dificuldades que aproximam a equipe daquele período com o time de hoje. As comparações entre os dos momentos do time, no entanto, se resumem exclusivamente aos problemas ocasionados pela falta de dinheiro. Isso porque dentro de campo o Botafogo de 1990 foi um dos destaques do futebol brasileiro. Seu protagonismo começou antes mesmo do início da década com a conquista do Campeonato Carioca, em 1989, ao derrotar o rival Flamengo com o histórico gol de Maurício. No ano seguinte veio o bicampeonato, sendo o Vasco a vítima da vez. Em 1992 uma ótima campanha levou o clube ao vice-Campeonato Brasileiro, perdido para o Flamengo. Em 1993 veio o título da Taça Commebol, a primeira conquista internacional oficial da história do clube. Tudo bem que o título sul-americano veio acompanhado de uma pífia campanha no campeonato brasileiro daquele ano, tendo o time de General Severiano amargurado uma 31° posição.

O insucesso na principal competição nacional não durou muito tempo. No ano seguinte o Botafogo já havia se recuperado e feito uma campanha bem superior, ocupando a quinta colocação na tabela final da competição. Há de se destacar que nesse momento o time já tinha como presidente Carlos Augusto Montenegro, eleito para o triênio 1994-1996. O mandatário foi responsável por uma restruturação no clube. Além de montar a base do time campeão brasileiro com as contratações de Túlio, Sérgio Manoel etc, foi na gestão Montenegro que o Glorioso retomou a sede de General Severiano, que havia sido vendida à Companhia Vale do Rio Doce, em 1977.

Apesar do sucesso imediato com a excelente campanha no Brasileirão de 1994, os principais feitos do presidente do Botafogo ficaram reservados para o ano de 1995. Além de continuar reforçando a equipe para a temporada, Carlos Augusto Montenegro montou uma diretoria que foi -no mínimo- muito eficiente e criativa. Para o comando técnico do time os dirigentes trouxeram o até então desconhecido Paulo Autuori do futebol português. O técnico é considerado um dos grande responsáveis pelo título nacional daquele ano. Além de introduzir seus conceitos táticos na equipe brasileiro, Paulo também foi responsável pela gestão do grupo que, segundo relatos do Jornalista Marcos Penido, era divido entre “os amigos do Túlio” e “os amigos do zagueiro Wilson Gottardo”. O motivo do racha entre os jogadores era que, ainda segundo Penido, Gottardo batia de frente com a direção por salários pagos em dia. Já Túlio recebia seus vencimentos pagos pela patrocinadora Pepsi – mais um legado da era Carlos Augusto Montenegro- e, por isso, seu salário era quitado sempre em dia.

Ainda de acordo com o jornalista Carlos Penido, em entrevista concedida ao Jornal Lance, Autuori e Montenegro protagonizaram um momento que foi determinante para que os assuntos extra-campo não afetassem o rendimento dos jogadores na luta pelo título. “Na minha opinião, teve um dia que foi fundamental na conquista: Montenegro e Autuori chamaram todos jogadores para dentro do campo e a porrada verbal foi enorme. Isso na frente de todos os jornalistas e de maneira super civilizada e democrática. Ali o Botafogo cresceu para mim e juntou as mãos para conquistar o título. Pois pelo menos todos concordaram que este era o objetivo é Montenegro deixou claro que atrasado ou não todos iriam receber. O título facilitava este caminho”, lembrou o jornalista.

Na minha opinião, teve um dia que foi fundamental na conquista: Montenegro e Autuori chamaram todos jogadores para dentro do campo e a porrada verbal foi enorme. Isso na frente de todos os jornalistas e de maneira super civilizada e democrática. Ali o Botafogo cresceu para mim e juntou as mãos para conquistar o título”, contou Penedo.

Apesar da conquista do Campeonato Brasileiro, o Botafogo não conseguiu manter a sua base e os principais jogadores pouco a pouco foram deixando o alvinegro carioca. Com o elenco enfraquecido, o time não conseguiu fazer mais boas campanhas no torneio nacional: 17° em 1996, 10° em 1997, 14° em 1998 e 14° em 1999. Os últimos bons momento do time na década foram em 1997, com a conquista de mais um Campeonato Carioca, em 1998, com a conquista da Taça Rio – São Paulo, ao bater o São Paulo na final, e em 1999, quando foi vice-campeão da Copa do Brasil, ao perder a final para o Juventude – RS.

Durante a década de 90 o Botafogo conquistou cinco títulos (dois Cariocas, uma Taça Commebol, um Brasileiro e um Rio- São Paulo) e teve outros dois vice-campeonatos nacionais (Brasileiro em 92 e Copa do Brasil em 99), além de outras boas campanhas nas competições que não conquistou. O bom momento do clube sugeria uma retomada de protagonismo do Glorioso no Brasil, o que não acontecia desde a década de 60, com a geração marcada por jogadores como Jairzinho, Gérson, Nilton Santos, Zagalo, Garrincha e tantos outros imortais do futebol brasileiro. A expectativa, no entanto, deu lugar a frustração e na virada do século o Botafogo voltou a fazer campanhas abaixo do esperado nas competições. Nos últimos 20 anos não conquistou nenhum título nacional e de quebra ainda foi rebaixado duas vezes, em 2002 e 2014.

O Cariocou bateu um papo com o torcedor alvinegro Edson Ramos, comerciante, 64 anos, e perguntou sobre a frustração pelo fato do seu time não ter feito campanhas tão boas quanto na década de 90. O botafoguense, no entanto, disse qu não houve expectativas por parte dele e explicou o motivo. “Pelo menos pelo que eu me lembro não houve grandes expectativas. A gente ganhou o campeonato (Brasileiro) e acabou aquela zoação, mas a expectativa mesmo era muito pequena, pela falta de ídolos, de um patrocínio mais seguro, pelos problemas políticos. A gente até conseguiu montar um grande time com o Cuca, tinha o Dodô, o Túlio. Eu acho que foi um dos melhores times do Botafogo nos últimos anos, mas infelizmente a gente não ganhou nada”, desabafou Edson.

O time o qual o seu Edson se referiu foi montado entre os anos de 2006 e 2007. Nesse período o clube foi Campeão Carioca (2006), nono colocado do Brasileirão, ficando a apenas seis pontos do G-4 (2007) e semifinais da Copa do Brasil (2007).

Túlio e cia

Durante a trajetória que levou o Botafogo ao segundo título do Campeonato Brasileiro, alguns jogadores se destacaram e foram considerados os pilares daquela campanha vitoriosa: Wagner, Gottardo, Gonçalves, Sérgio Manoel, Túlio e Donizete. A montagem do elenco que foi campeão, no entanto, começou ainda em 1994 e fez parte de mais uma ação acertada da diretoria montada por Montenegro.

Túlio Maravilha segura a bola do jogo e beija o troféu que ele ajudou a conquistar (Foto: Reprodução/Facebook)

Dos jogadores citados, Wagner, Gottardo, Sérgio Manoel e Túlio fizeram parte do elenco que terminou o Campeonato Brasileiro na quinta posição em 1994. Para a temporada seguinte, chegaram Gonçalves -para formar a dupla de zaga com Gottardo- e Donizete -para formar o ataque com Túlio-, além de Paulo Autuori para o comando técnico. O time “deu liga” e cresceu ao longo da competição de 95.

Pode se dizer, portanto, que o sucesso do Botafogo se explica 50% pelo coletivo muito forte. Já os outros 50% tem nome e apelido: Túlio Maravilha. O atacante, que já havia sido artilheiro do Brasileirão em 1989, quando tinha apenas 20 anos e ainda atuava pelo Goiás, repetiu o feito em 1994 (19 gols) e 1995 (23 gols). De todos os tentos assinalados no ano do título, destaque para os últimos três gols, marcados contra o Cruzeiro no jogo de ida da semifinal (um) e os gols do título, nos jogos de ida e volta contra o Santos na grande final (um em cada jogo). Dessa forma, Túlio assumiu o protagonismo daquele time e foi o símbolo da conquista do Campeonato Brasileiro.

Suas boas atuações pelo Glorioso o credenciaram a vestir a amarelinha da seleção brasileira para a Copa América de 1995. Na campanha do vice-campeonato Túlio também foi um dos protagonistas, com direito a gol com ajeitada de mão na bola na semifinal contra a Argentina e gol na final contra o Uruguai. Ao todo o camisa nove balançou as redes três vezes na competição.

A campanha e o pagamento de “bicho” na derrota

O início da caminhada até o título não foi nada fácil para o Botafogo. A equipe que terminou a competição no ponto mais alto da tabela só virou postulante ao título durante o campeonato, na segunda fase para ser mais preciso. Isso porque durante a primeira fase a campanha do Glorioso foi apenas regular, com cinco vitórias, três empates, três derrotas e uma modesta quinta posição.

Apesar de números impressionante na segunda fase (oito vitórias, três empates e apenas uma derrota) e o reconhecimento por parte da torcida e de jornalistas, jogadores e comissão técnica definem alguns jogos ainda na primeira fase que foram cruciais para o Botafogo na sequência da competição: vitória contra o Flamengo e derrota para o Cruzeiro.

A vitória contra o rival Carioca tem o seu valor porque simbolizou a eficiência de um “time de operários contra o time dos sonhos”, pelas palavras de Túlio Maravilha. O Flamengo de 1995 configurava uma lista de postulantes ao titulo nacional daquele ano. O favoritismo podia ser explicado a partir de três nomes: Romário, Edmundo e Sávio. Três dos melhores atacantes -se não os melhores- do futebol brasileiro naquele momento. Os 3×1 e a grande atuação serviram para deixar os jogadores cheios de confiança para a sequência da competição. “O Flamengo com aquele timaço de Edmundo, Romário e Sávio e nós, com nosso time de operários bem trabalhado pelo Paulo Autuori, conseguimos ganhar de 3×1 e dali mostramos que estávamos vivos na competição e que tínhamos condições de chegar ao título”, revelou Túlio em entrevista ao Canal Botafogo TV.

O jogo seguinte à vitória contra o Flamengo teve uma importância ainda maior para os jogadores do Botafogo, mesmo com a derrota para o Cruzeiro pelo placar de 5×3. Isso porque, ainda no vestiário do Mineirão, o presidente Carlos Augusto Montenegro, em gesto de reconhecimento pela dedicação e garra dentro de campo, presenteou o seus jogadores com uma premiação em dinheiro. Esse é, possivelmente, o único caso de “bicho” pago a jogadores mesmo diante de uma derrota no futebol brasileiro. “No vestiário eu chamei todos os jogadores, parabenizei, peguei o dinheiro, coloquei na mesa e falei que era o prêmio deles. O bicho. A gratificação. O pessoal ficou meio desconfiado porque eles haviam perdido, mas eu falei que na vida a gente ganha e perde, mas que eles haviam perdido com personalidade, mostrando que a gente tinha um grande time”, contou Montenegro também em entrevista ao Canal Botafogo TV.

Para a fase final, se classificaram os quatro times com maior pontuação somando a primeira e a segunda fase. Portanto, Santos (46), Botafogo (45), Cruzeiro (39) e Fluminense (34) tiveram as melhores campanhas. No sorteio, o alvinegro pegou o Cruzeiro enquanto que Santos e Fluminense fizeram a outra semifinal, ambas as partidas com duelo de ida e volta.

O primeiro jogo decisivo para o Glorioso foi na casa do rival e o placar foi de 1×1 com gol de Túlio para os cariocas e de Paulinho Mc Laren para os mineiros. No jogo de volta, o Botafogo soube jogar com o regulamento debaixo dos braços e, com uma partida muito inteligente, segurou o Cruzeiro durante os 90 minutos e a partida terminou empatada mais uma vez, só que agora por 0x0. Por trer tido a melhor campanha, o Botafogo despachava o seu adversário e garantia uma vaga na finalíssima. O rival era o Santos, que goleou o Fluminense por 5×2 após ser goleado no primeiro jogo (4×1) e se classificar pelo mesmo critério da melhor campanha.

O jogo do título

A grande final contra o Santos de Edinho, Giovanni e do técnico Cabralzinho foi eletrizante e marcada por muitas polêmicas. As duas equipes também haviam se enfrentado na fase anterior, com vitória para o peixe por 3×1 na Vila Belmiro. Assim como fez diante do Cruzeiro, o técnico Paulo Autuori conseguiu corrigir os erros do time contra o adversário e fazer partidas mais equilibradas na reta final. No jogo de ida, no Maracanã, o Botafogo venceu por 2×1. Já na volta, no Pacaembu, empate por 1×1 no tempo regulamentar, resultado que foi suficiente para garantir o segundo título nacional para a equipe carioca.

Já o Santos contesta até hoje o resultado daquela partida final por ter se sentido prejudicado pela arbitragem em dois lances cruciais do jogo. Primeiro pela posição irregular de Túlio no lance do gol e por um gol mal anulado do santista Camanducaia. Anos depois, Márcio Rezende de Freitas reconheceu que aquele jogo foi marcado por erros de arbitragem. Em contrapartida, botafoguenses reclamam de um lance no primeiro jogo da final. Túlio recebera a bola na cara do gol defendido por Edinho mas o árbitro Sidrack Marinho interrompeu o lance para marcar falta sobre Sérgio Manoel, sem aplicar a lei da vantagem.

Com ou sem polêmicas, o fato é que o Botafogo de Futebol e Regatas foi o time mais eficiente daquele campeonato que contou 24 equipes e conquistou o seu segundo troféu de campeão nacional. Agora, que tal conferir os principais lances dos três jogos contra o Santos?

Semelhanças e contrastes com os dias de hoje

Se o time campeão de 1995 foi, pouco a pouco, superando as dificuldades extra-campo, as desconfianças e mostrando ser uma equipe forte na competição, não podemos dizer o mesmo do Botafogo de 2020. Os problemas fora de campo até são parecidos, principalmente pela delicada situação financeira. Das cinco principais metas traçadas para captação de dinheiro no ano de 2020 apenas uma foi atingida pelo clube. Confira com mais detalhes as projeções financeiras e resultados alcançados até agora, segundo valores apurados pelo site Globoesporte.com.

  • Camp. Brasileiro: sexto lugar – Não cumprido. Time ocupa a 19º posição e terá cerca de R$ 18 milhões a menos.
  • Copa do Brasil: oitavas de final – Cumprido. R$ 8,5 milhões arrecadados.
  • Venda de atletas: R$ 62,4 milhões – Não cumprido. Apenas R$ 40 milhões foram arrecadados, segundo a diretoria.
  • Folha salarial de jogadores: R$ 2,15 milhões – Não cumprido. Folha atual é de cerca de R$ 3 milhões.
  • Patrocínios: R$ 18 milhões – Não cumprido. Apenas R$ 6 milhões arrecadados com publicidade.

Uma das poucas diferenças em relação ao quadro financeiro que o clube tinha em 1995 é que, ao menos os salários dos jogadores e comissão estão sendo pagos em dia, graças a um acordo judicial que garante que o Botafogo pague seus compromissos até fevereiro de 2021. Apesar de uma boa notícia, o panorama está longe de ser bom no time carioca e Durcésio Mello, presidente eleito para os próximos quatro anos, terá muito trabalho para arrumar as finanças do clube.

Já dentro de campo a situação é muito diferente. No Campeonato Carioca, primeira competição oficial da temporada, sequer se classificou para a semifinal da Taça Guanabara, caiu na semifinal diante do Fluminense na Taça Rio e na classificação geral terminou em quinto lugar, atrás das modestas equipes do Volta Redonda e Boa Vista, terceiro e quarto colocado, respectivamente. Já na Copa do Brasil, caiu para o Cuiabá ainda nas oitavas de final. A eliminação foi a terceira seguida para times que não disputam a série A do futebol nacional. Em 2018 caiu diante do Juventude – RS (Série C) e em 2018 para o Aparecidense-GO (Série D).

No Campeonato Brasileiro a sorte do Botafogo não foi diferente e até a data da publicação da matéria (31/12), o Glorioso amarga a penúltima posição, com 23 pontos em 27 partidas disputadas e já tem mais de 90% de chance de rebaixamento, segundo o Site Probabilidades no Futebol, do Departamento de Matemática da UFMG e segundo o Site Chance de Gol, segundo noticiou o Portal Uol.

Para o comerciante e torcedor botafoguense, Edson Ramos, que conversou com a equipe do Cariocou, a falta de um ídolo é um dos principais motivos para o momento delicado do clube. Ele acredita que a falta de um jogador que seja referência do time ocasiona diversos outros problemas, já sua presença, poderia interferir até mesmo na situação financeira do clube. “O Botafogo não conseguiu mais um ter investimento e nem um ídolo de 1995 para cá. E o ídolo atrai a torcida, fazia encher o estádio, atrai patrocínios. Para você ver, apenas uma contratação midiática pode movimentar tudo isso, como foi o caso do Túlio lá atrás. Você vê por exemplo quando o Botafogo contratou o Seedorf, a paixão que a torcida teve”, relembrou o seu Edson.

Para 2021, assim como o seu Edson, os torcedores do Botafogo querem ter o prazer e o orgulho que já tiveram no passado. Contratações à altura do clube, equilíbrio financeiro e conquista de títulos não podem ser realidades distantes para o time que mais cedeu jogadores para a seleção brasileira em Copas do Mundo e, por isso, é um dos maiores clubes do futebol brasileiro.

– Por Christian Fuentes

LEIA MAIS: HÁ 50 ANOS, FLUMINENSE CONQUISTAVA O MAIOR CAMPEONATO BRASILEIRO DE TODOS OS TEMPOS

Há 50 anos, Fluminense conquistava o Maior Campeonato Brasileiro de Todos os Tempos

Há cerca de 50 anos, o Fluminense Football Club celebrava o primeiro título brasileiro de sua história. O Tricolor das Laranjeiras conquistou, em 1970, o Torneio Roberto Gomes Pedrosa (Robertão), também conhecido como Taça de Prata. Último dos predecessores do Brasileirão.

O ano era 1970. A moda hippie coloria as ruas do Rio de Janeiro. Mulheres usavam faixas no cabelo e longas saias indianas. Enquanto que homens cabeludos vestiam camisas estampadas e com cores vibrantes. Um contraste em relação a política do Brasil. Com o General Emílio Garrastazu Médici no poder, o país vivia o auge da repressão e da censura na Ditadura Civil-Militar desde o Golpe de 1964 e a instauração do AI (Ato Institucional) 5, em 1968.

Até àquela altura, o Flu, primeiro campeão carioca em 1906, já havia se consolidado como maior vencedor do Estadual, com 19 títulos. Mas, para o Tricolor, ainda faltava conquistar o Brasil. Feito que, até então apenas o Botafogo de Gérson ‘Canhotinha de Ouro’ e Zagallo, entre os cariocas, havia conseguido no ano de 1968. Uma das maiores autoridades quando se trata de história do Fluminense, o jornalista e escritor Dhaniel Cohen explica como se formou o elenco para o Robertão de 1970.

“A base do elenco foi o time campeão carioca em 1969, comandando à época pelo técnico Telê Santana, que formou o grupo. Todos os titulares campeões estaduais em junho de 1969 formaram o time-base campeão nacional no ano seguinte. Félix, Oliveira, Galhardo, Assis, Marco Antônio, Denilson, Samarone, Flávio e Lula eram a base das duas equipes campeãs”, explica o responsável por gerir a Flu-Memória.

Em pé: Oliveira, Félix, Denilson, Galhardo, Assis e Marco Antônio. Agachados: Cafuringa, Didi, Mickey, Samarone e Lula. Mickey acabou responsável por substituir Flavio, lesionado, na reta final do Torneio Roberto Gomes Pedrosa (Foto: Reprodução/Facebook do Fluminense Football Club)

Com estes jogadores, o Tricolor entraria na disputa justamente daquele que ficou conhecido como “O Maior Campeonato Brasileiro de Todos Os Tempos”.

Relação entre a Copa de 1970 e o Robertão

Titular absoluto na Copa, Félix teve destaque sobretudo na vitória por 1 a 0 sobre a atual campeã Inglaterra, pela segunda rodada da fase de grupos. Considerado o confronto mais difícil da Seleção Brasileira no Mundial do México. Na mesma partida que o inglês Gordon Banks fez a “defesa do século” na cabeça do Rei Pelé, o arqueiro tricolor impediu uma cabeçada à queima-roupa de Francis Henry Lee que poderia mudar a história do Tricampeonato.

Com apenas 1,75m de altura, Félix era considerado “baixinho” para a posição. Mas o arqueiro, ídolo do Fluminense e da Seleção Brasileira compensava com reflexos ágeis (Foto: Reprodução/Facebook do Fluminense Football Club)

Assim como Félix, Marco Antônio também estava cotado para começar a Copa como titular. Entretanto, uma lesão tirou o lateral das primeiras partidas. E, mesmo com o jogador do Flu recuperado, o ‘Capita’, Carlos Alberto Torres, teria convencido o técnico Mario Jorge Lobo Zagallo a manter Everaldo para dar mais sustentação ofensiva. Por isso, o xodó de Zagallo atuou apenas na vitória por 4 a 2 sobre a Seleção Peruana, treinada por Didi, pelas quartas-de-final. O jovem, aliás, contribuiu com uma assistência para o primeiro gol de Tostão na partida.

“Apesar de ter os tricampeões mundiais, Félix e Marco Antônio, em seu elenco, o Fluminense chegou desacreditado. Não apenas por terem outros times mais fortes e mais badalados no Brasileiro de 1970, mas também pelo recente vice estadual, competição conquistada pelo Vasco. O bicampeonato carioca não foi atingido por um ponto, o que causou grande frustração. Apesar disso, o grupo foi prestigiado e o entrosamento do time foi fundamental para o sucesso no campeonato”, explica Dhaniel Cohen.

Fluminense no Taça de Prata

Aos 70 anos, o tricolor e oficial da reserva da Aeronáutica, Carlos Alberto Santos, lembra com carinho da conquista de 1970.

“Na época tinha 20 e estava na arquibancada do Maracanã antigo. Era fã do Samarone, um atacante baixinho ensaboado”, disse Carlos.

Assim como Carlos, muitos outros tricolores se apegaram aquele time do Fluminense. Sobretudo, às figurinhas carimbadas.

Em 1970, 17 clubes entraram na disputa pelo título do Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Sob a batuta de Samarone no meio-campo e com os gols de Flavio Minuano, o Fluminense, de Félix e Marco Antônio, encerrou a primeira fase da Taça de Prata na segunda colocação do Grupo B, com 20 pontos em 16 partidas. Apenas um ponto atrás do líder, Cruzeiro. Em um período do qual não se têm muitos registros filmados dos jogos, o jornalista Dhaniel Cohen explica de que forma o Flu atuava.

“Era um time muito solidário, cirúrgico, sem nenhuma grande estrela, apesar de contar com vários ótimos jogadores. O perfil era cada um por si e todos pelo Fluminense. Tinha um (camisa) 9 clássico, artilheiro. No caso, o Flávio, substituído por um iluminado Mickey nos últimos quatro jogos. Era fortíssimo na defesa. Sofria poucos gols e isso fazia a diferença. Bem eficiente na marcação, muito bem protegido pelo volante Denilson, além dos zagueiros Assis e Galhardo. E atacava muito pelas pontas com Lula e Cafuringa. Samarone era o cérebro do time”, afirma Cohen

O Tricolor das Laranjeiras conquistou oito vitórias, quatro empates e quatro derrotas. Vale ressaltar que somente a partir de 1995, todas as vitórias passaram a valer 3 pontos. Foram 26 gols marcados (segundo melhor ataque da primeira fase), quase metade deles anotados por Flavio — que viria a desfalcar o Fluminense justamente na fase decisiva — e 16 gols sofridos. Além da Raposa e do Flu, o grupo reunia outras grandes equipes como, por exemplo, Internacional, Flamengo (quarto colocado), Corinthians, Santa Cruz, Athlético Paranaense, Ponte Preta e Vasco, que, assim como o América, no Grupo A, terminou a competição na lanterna. Enquanto que o outro carioca, o Botafogo, terminou em terceiro no mesmo Grupo A.

Mickey: predestinado e perseguido

Com Mickey no comando de ataque, o Fluminense entrou no quadrangular final junto com Palmeiras e Atlético-MG, respectivamente líder e vice-líder do Grupo A, além do próprio Cruzeiro. O atacante marcou os gols da vitória sobre o Palmeiras e sobre o Cruzeiro. Em todos, comemorou com o símbolo fazendo um símbolo hippie com a mão, o que lhe rendeu o apelido de “Artilheiro Paz e Amor”.

Mas, nem tudo eram flores em Laranjeiras. Com um Governo atento ao futebol, inclusive com suspeitas de intervenção na Seleção Brasileira como na demissão de João Saldanha e a convocação de Dadá Maravilha para a Copa. Assim, as inocentes comemorações fizeram com que Mickey entrasse na lista de suspeitos da Ditadura. De acordo com o próprio, o atacante chegou a ser abordado por uma pessoa não identificada na rua para perguntar se o gesto era uma provocação aos militares. A história também foi destacada pelo diretor da Flu-Memória.

“(A comemoração “paz e amor”), não era para ser do Mickey. Era um trato de todo time no quadrangular final. Quem fizesse gol comemoraria daquela maneira. Quis o destino que todos os gols fossem do Mickey e ele ficasse eternizado pelo gesto. A atitude não foi muito bem vista pela Ditadura, mas foi uma das marcas do título”, explica Cohen.
O jogo do título

“Na arquibancada do Maracanã, vibrando, tinha um movimento de artistas tricolores chamado “Jovem Flu”, com Chico Buarque, Jô Soares, Elis Regina, Nelson Motta, Gilberto Gil… Um título que marcou época para essa geração de torcedores e que tem um lugar especial em nossa história”, encerra Cohen.

No ano seguinte, o Torneio Roberto Gomes Pedrosa serviu como base para a criação do Campeonato Brasileiro. Contudo, somente a partir de 2012, com a unificação dos títulos anteriores a 1971 por parte da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), que a conquista passou a ser celebrada oficialmente como um Brasileirão.

O Tricolor só voltaria a conquistar o Brasil novamente em 1984. Com um time formado por grandes nomes da história do clube como, por exemplo, Paulo Victor, Ricardo Gomes, Branco, Romerito, além do casal 20, Assis e Washington. Depois, os torcedores viveriam mais um jejum de 26 anos até o triunfo do Time de Guerreiros em 2010, em um ano marcante para Dario Conca,  e outro em 2012, tendo Fred como protagonista.

– Por Lucas Meireles