A trajetória do campeonato que simboliza a luta pela igualdade social e racial no futebol brasileiro

O Campeonato Carioca de Futebol, que anda um tanto quanto desprestigiado, já nos reservou muitos momentos de emoção. Ou você nunca vibrou, sorriu ou sofreu com algum dessas lances? Roberto Dinamite, Renato Gaúcho, Maurício e Petkovic protagonizaram grandes momentos no Campeonato Carioca, eternizaram seus nomes na história de seus clubes e no coração dos torcedores.



Esses jogadores proporcionaram memórias valiosas sobre um campeonato que marcou a luta por direitos iguais no futebol e na sociedade. A competição, além de ter sido um dos principais eventos esportivos do país durante décadas, também marcou um processo de descentralização da prática do esporte na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, onde se concentravam os primeiros estádios do estado .


Nesta reportagem especial sobre o Campeonato Carioca, resgatamos um pouco da memória desta competição que marcou momentos de felicidade para milhões de torcedores e admiradores do futebol. Entenda como foi sua origem, desenvolvimento, momentos marcantes e a grave crise que ameaça a continuidade do torneio para os próximos anos. Será o fim do campeonato considerado o mais charmoso do Brasil? Confira.

Valor Histórico

A competição estadual, não à toa tida como a mais charmosa do país desde sua fundação, sempre foi palco de craques dentro de campo e revolucionários fora dele. Se por um lado, nos gramados cariocas desfilaram Rivelino, Zico, Roberto Dinamite e até mesmo um dos maiores atletas da história do futebol, mané Garrincha, por outro, Francisco Carregal, José Augusto Prestes e outros jogadores eram símbolos de resistência contra o então esporte “das elites”. Seja pela técnica ou pela luta de classes, o estadual de futebol do Rio de Janeiro, carrega consigo muita história.

Nas décadas de 1930 e 1940, o Campeonato Carioca foi o estadual que mais cedeu jogadores à seleção brasileira. Para se ter uma ideia, a amarelinha que disputou a primeira Copa do Mundo da Fifa, no Uruguai em 1930, contava somente com atletas que jogavam no Rio de Janeiro. Naquele ano, a Associação Paulista de Esportes Atléticos (APEA), que regia o futebol paulista, entrou em conflito com a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) por querer que um de seus membros integrasse a federação nacional, fato negado pela CBD. Por esse motivo, a federação paulista não liberou a participação de jogadores de clubes paulistas na Copa do Mundo de futebol.

Contexto social

Fotos: Reprodução/Facebook Rio Antigo-Memórias

O ano era 1906, início do século 20, mas ainda muito marcado pelos grandes acontecimentos do século anterior. Dentre os avanços tecnológicos, destaca-se o primeiro voo de Alberto Santos-Dumont, de cerca de 220 metros com seu avião 14-Bis no Parque de Bagatelle, França. Acontecia também naquele ano a primeira transmissão radiofônica do mundo, em Massachussetz, Estados Unidos (EUA). Também nos EUA, aconteceu um grande terremoto, o maior já registrado no país. O grande abalo sísmico causou a morte e desabrigou milhares de pessoas. Em 1906, Theodore Roosevelt conquistava o Prêmio Nobel da Paz, por promover o tratado de paz na Guerra Russo-Japonesa.

Já no Brasil, o período marca a obrigatoriedade do alistamento militar para os brasileiros do sexo masculino a partir dos 18 anos. Naquele mesmo ano, o mineiro Afonso Pena, que tinha ampla experiência política, após ter liderado três ministérios, assume a presidência da República Federativa do Brasil. O país possuía uma estrutura financeira e social muito diferente da estrutura atual. A começar pelo tamanho de sua população – cerca de 4 milhões de habitantes – com destaque para o Rio de Janeiro, capital federal e estado mais populoso, com cerca de 800 mil habitantes.

Com características extremamente rurais, o mercado interno era movimentado pelo abastecimento de mandioca, milho e feijão. Já a agricultura para exportação ficou marcada, principalmente, pela comercialização de produtos como açúcar, algodão e fumo. O café, que teve grande importância para a economia nacional nos anos seguintes, começava a entrar no Brasil, produzido em grande escala no Rio de Janeiro e depois em São Paulo.

Devido aos impactos causados pela Proclamação da República, em 1889, a sociedade brasileira ficou marcada por uma grande desigualdade entre as classes. Isso porque após sair do comando português, a elite agrária – que defendia o fim da aliança com Portugal , passa a “dominar” o Brasil. Além desta elite, a população local era formada por uma classe média (médicos, advogados, militares e etc), pobres e escravos.

Pioneirismo negro

Nesse mesmo período histórico se desenvolvia no Brasil a prática de um novo esporte, chamado futebol. Mas, para que se pudesse praticá-lo em seus primórdios, uma luta contra um terrível adversário do povo precisou ser travada: o preconceito. Além do brilhantismo que se via dentro das quatro linhas nos campos do “Cariocão”, primeira competição local, aconteceu no estado uma grande vitória social que viria a mudar para sempre o rumo do esporte no país. Fundado por aristocratas ingleses e trazido para o Rio de Janeiro, o futebol era um esporte que somente brancos e pessoas de boa condição financeira tinham o direito de praticar. Em 1905, o Bangu escalou Francisco Carregal, o primeiro atleta negro a disputar uma partida de futebol no Brasil, para a partida contra o Fluminense.

“O futebol brasileiro não se muda em um processo harmônico e sim por conflitos. O direito do negro jogar futebol não se dá por outorga e sim por conquista, por resistência” Gustavo Santos.

O Bangu chegou a ser notificado que deveria excluir o jogador do campeonato naquela ocasião por Carregal ser negro, quando então decidiu abandonar a competição e continuar com o atleta. O historiador Gustavo Santos, autor do livro Proletários da Bola, descreve o processo da luta de classes no esporte. “O futebol brasileiro não se muda em um processo harmônico e sim por conflitos. O direito do negro poder jogar futebol não se dá por outorga e sim por conquista, por persistência”. O Bangu chegou a ser notificado que deveria excluir o jogador do campeonato naquela ocasião por Carregal ser negro, quando então decidiu abandonar a competição e continuar com o atleta.

Anos mais tarde, outro clube da capital do estado foi fundamental na luta pela democratização do esporte no país, o Vasco da Gama. Até a ascensão do Vasco havia, no Rio, uma clara divisão. Fluminense, Botafogo e Flamengo, os chamados grandes da Zona Sul da cidade de um lado e as pequenas equipes suburbanas do outro. Os grandes jogos eram disputados no estádio do Fluminense Football Club, em Laranjeiras, para plateias muito bem vestidas.

Elenco do Vasco que ficou conhecido como “Camisas negras”(Foto: Site Oficial Vasco)

Em 1923, o Vasco da Gama crescia e embora ainda fosse um time amador, vinha dando dor de cabeça aos adversários. O clube de São Cristóvão conquistou naquele ano o primeiro título carioca de sua história, e também o primeiro de um time que não fazia parte da alta elite aristocrata e da Zona Sul da cidade, que era até então o polo futebolísticos do estado.

O Vasco contava com estrutura mais precária em relação aos clubes da Zona Sul e possuía atletas de profissão duvidosa, era o que alegavam os dirigentes dos outros times. A Associação Metropolitana de Esportes Athléticos (AMEA)  pediu a exclusão de 12 atletas do cruzmaltino do estadual, por serem negros de classe baixa.

José Augusto Prestes, o presidente do cruzmaltino naquele período, assinou a resposta históricauma espécie de manifesto que informava que o Vasco não disputaria a primeira divisão do estadual sem aqueles atletas, exigência colocada como condição pela federação, em abril de 1924. Mesmo assim, a elite permitiu, de forma preconceituosa, que o processo aberto pelo Vasco fosse brecado.

A divisão durou pouco, somente um ano. Em 1925, o Vasco se juntou à Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (AMEA) e disputou o Carioca ao lado de Flamengo, Fluminense, Botafogo e América, principais clubes da época no estado. A volta do Vasco foi realizada usando como justificativa a representatividade dos cruzmaltinos para o futebol carioca. A AMEA dava a sua permissão, assim, à participação aberta de jogadores de classes mais pobres – e, consequentemente, de negros no campeonato estadual.


Você Sabia, torcedor?
Monumento de Thomas Donahoe, produzido pelo cenógrafo Clécio Régis e inserido na entrada do Bangu Shopping, local onde era localizada a Fábrica de Tecidos do bairro (Foto: Christian Fuentes)

O Rio de Janeiro, além de sediar um dos principais torneios regionais do Brasil, também foi berço do surgimento do futebol no país. A história nos conta que o Escocês Thomas Donahoe, que veio ao Brasil em 1894 para trabalhar na Fábrica de tecidos Bangu, se surpreendeu ao chegar no país e descobrir que o esporte não era praticado por aqui. No mesmo ano, quando sua esposa Elizabeth também desembarcara no Brasil, trouxe consigo seus dois filhos, John e Patrik, e na bagagem, uma bola de couro. No dia nove de setembro de 1894, Donahoe reuniu alguns operários da Fábrica têxtil, para que ali mesmo, no pátio da indústria, tivesse início a primeira partida de futebol, no bairro de Bangu.


Linha do tempo
  • 1905

    Em 1905, no Rio de Janeiro, estreou pelo Bangu Athletic Club (posteriormente se chamaria Bangu Atlético Clube) um jogador negro: o operário Francisco Carregal

  • 1906

    Acontecia a primeira edição do estadual do Rio de Janeiro, com seis equipes participantes e vencida pelo Fluminense

  • 1907

    A Liga Metropolitana de Football – o equivalente à FERJ – publicou uma nota proibindo “pessoas de cor” de participarem dos campeonatos de futebol, o que fez o Bangu abandonar a Liga e não disputar o Campeonato Carioca daquele ano

  • 1924

    Vasco se recusaria a disputar a divisão principal do Rio de Janeiro sem seus jogadores negros. Dessa foma, a equipe Cruz-Maltina simbolizara a luta pela inclusão do negro no futebol

  • 1925

    A entidade reguladora do esporte no Rio de Janeiro admitia novamente o Vasco da Gama e dava a sua permissão, assim, à participação aberta de jogadores de classes mais pobres e negro no estadual

E se o preconceito impedia por anos que muitos se tornassem jogadores, isso também se refletia na arquibancada. Na maioria dos campos de futebol, negros e pobres eram proibidos de acompanharem as partidas na arquibancada, espaço que era destinado aos brancos e ricos. “A própria figura do torcedor também foi um direito conquistado ao longo do tempo de permanecer ali naquele espaço, o torcedor nasce por um direito dele de rebelião”, conta o historiador, Gustavo Santos.

Nesse aspecto, o Bangu também foi fundamental ao decidir não dividir mais sua torcida por aspecto racial e econômico em setores diferentes do estádio, revolucionando e promovendo a integração do esporte em uma época em que o que se praticava era o football e não o futebol, como conhecemos hoje. “Há uma grande diferença entre aquilo que os ingleses introduziram aqui e o futebol. O football é o elemento das elites e o futebol é um elemento criado pelas camadas populares, o proletariado que cria o futebol por meio de um processo de conquista”, destaca o historiador.

O mais charmoso campeonato estadual

Por décadas o torneio estadual do Rio foi considerado o mais charmoso e atrativo do Brasil, mas o que pode nos ajudar a entender tal brilhantismo? Seria pela quantidade de jogadores que se destacaram por esses campos e chegaram na seleção nacional? Ou pelos constantes recordes de público sendo batidos domingo após domingo? Motivos não faltam.

Embora o maior jogador da história do esporte não tenha nascido aqui- Pelé, diga-se de passagem -, fomos nós que revelamos ao mundo Zico, Romário, Edmundo, Ronaldo, Garrincha, Roberto Dinamite, Telê Santana e tantos outros. Muitos foram os jogadores que saíram do futebol carioca para os campos da Europa e que disputaram mundiais com a amarelinha. O que dizer então, dos cinco clubes que mais cederam jogadores ao time nacional em Copas do Mundo? Nessa lista, temos os quatro clubes do Rio e o São Paulo – como o único não carioca.

O estádio do Maracanã foi construído para a Copa de 1950 e passou por uma grande reforma – e redução de capacidade – para a Copa de 2014 (Foto: Site Oficial Flamengo)

Com a construção do estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã, para a disputa da Copa do Mundo de 1950, o Carioca passou a ter o maior palco do planeta para sediar seus jogos. A partir de então, era comum, em uma tarde de domingo, mais de 150 mil torcedores acompanhando seus times em partidas do campeonato estadual. No entanto, após a reforma para a Copa de 2014 sediada no Brasil, o Maracanã teve sua capacidade reduzida para “apenas” 78 mil pessoas.

O recorde de público em uma partida do Cariocão é de 194.603 pessoas, que viram o Flamengo conquistar o Carioca de 1963 diante do Fluminense, após confronto que terminou sem gols. A partida ocupa até hoje o posto de evento de futebol com mais torcedores do que qualquer outro jogo entre clubes no futebol brasileiro, atrás apenas de dois jogos da seleção brasileira: a final da Copa de 1950 entre Brasil 1 x 2 Uruguai (199.854) e Brasil 4 x 1 Paraguai (195.513), pelas Eliminatórias em 1954, ambas disputadas no Maracanã.

Dessa forma, o Rio de Janeiro passou a carregar consigo a imagem de um dos principais centros do futebol, pois além de revelar diversos craques da bola para o mundo, a praça carioca possuía, até então, 6 clubes grandes (América e Bangu faziam parte desse seleto grupo) e o templo do futebol, palco que comportava até 200 mil pessoas, características que nenhuma outra capital da bola tinha o privilégio de ostentar, mesmo que por algumas décadas.

Mais de meio século de supremacia

A década de 1960 foi também a última em que tivemos um campeão diferente dos habituais quatro grandes. O Bangu conquistou em 1966 o segundo Campeonato Carioca de sua história ao bater o Flamengo na decisão no Maracanã. Lá se vão 54 anos sem vermos um clube de menor expressão dando a volta olímpica em um dos maiores templos do futebol, pois as disparidades financeira e consequentemente técnica se fazem cada vez mais presentes, impedindo a montagem de elencos competitivos por parte dos times de bairro, como Bangu e América.

Nas décadas seguintes (1970, 1980, 1990), o que se viu pelos gramados do Rio, foi uma disputa entre Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco. Dentro desse período, os rubro-negros conquistaram 10 títulos, um terço dos campeonatos disputados, sete a mais do que os alvinegros, um a mais que cruzmaltinos e tricolores, passando assim a rivalizar de vez com o então maior campeão do estado, o Fluminense. Trono que anos mais tarde trocou de residência, de Laranjeiras a Gávea, quando em 2009 , o rubro-negro passou a ser o maior vencedor da história do torneio, chegando ao seu título de número 31, cinco a menos que os 36 de hoje.

Principais estádios do futebol carioca

Clique no mapa e navegue pelos principais campos e estádios do futebol carioca

Maracanã, Engenhão, São Januário… Mesmo que você não seja aquela pessoa mais apaixonada por futebol, sabe que esses nomes se referem a grandes e tradicionais estádios do futebol carioca. São “templos” que abrigam mais do que um gramado cercado por quatro linhas e alguns milhares de bancos ao redor. Esses estádios possuem incontáveis histórias, sejam eles desportivas, políticas ou sociais. Também foram palcos para duelos que ficaram marcados na história do Cariocão e para grandes jogadores que tiveram a oportunidade de disputar o campeonato mais charmoso do Brasil. Mas, o que talvez você não saiba, ou melhor, não conheça, são os outros estádios que representam tão bem a história do Estadual. Você sabia que o futebol carioca e nacional surgiu e se desenvolveu em estádios bem menos badalos do que esses citados?


(Foto: Facebook oficial São Cristóvão F.R)

Vamos começar pelo início, ou melhor, pelo Figueira de Melo. O estádio do São Cristóvão de Futebol e Regatas é chamado hoje de Ronaldo Nazário de Lima em homenagem a um dos maiores jogadores da história do futebol mundial, que surgiu ali. Construído em 1916, foi o primeiro a completar 100 anos no estado.


O Clube Cadete foi campeão carioca na edição de 1926, mas o fato curioso é que na campanha do título a equipe da Zona Norte mandou seus jogos em um famoso campo da Zona Sul, o Campo da Rua Paissandu. Composto por arquibancadas feitas de madeira e uma paisagem formada principalmente por enormes palmeiras – que compõe o paisagismo do bairro até hoje, o campo pertencia ao Paissandu Atlético Clube, localizado no bairro das Laranjeiras. Também foi a casa do Flamengo até a década de 1930 e palco de um jogo amistoso da Seleção Brasileira, contra o Barracas da Argentina, em 1917.


O primeiro grande palco de cimento da América Latina construído para receber jogos importantes foi a Laranjeiras, em 1919. Três anos depois, o estádio que pertence ao Fluminense Futebol Clube teve sua capacidade aumentada de 19 para 25 mil, para que pudesse receber três grandes eventos: o centenário da Independência do Brasil, os Jogos Olímpicos Latino-Americanos (precursor dos Jogos Pan-Americanos) e o Campeonato Sul-Americano de Seleções Nacionais (como era conhecida a Copa América e primeiro título da seleção brasileira). Antes mesmo da construção da estrutura do estádio, o palco já havia ficado marcado na história do futebol nacional por ter sediado o primeiro jogo da seleção. O local ainda era conhecido como Campo da Rua Guanabara e sediou o duelo contra o Exeter City, da Inglaterra, com cerca de três mil torcedores presentes no local.


Em 1947 a construção do Estádio Proletário Guilherme da Silveira entrava para a história do futebol estadual e nacional. Pertence ao Bangu Atlético Clube e foi feito sob forte influência britânica. Era utilizado por proletários da antiga Fábrica de Tecidos Bangu e fica localizado ao norte da linha férrea do bairro que deu nome ao clube. A nova construção marcou uma das etapas mais importantes do futebol: o fortalecimento do esporte no subúrbio carioca, que até então era praticado sobretudo pelas classes hegemônicas da Zona Sul da cidade, onde se encontravam a maioria dos campos e estádios. A partir da década de 1940, um movimento de expansão da prática futebol aconteceu com a construção de diversos estádios no subúrbio. Conselheiro Galvão (Madureira), Rua Bariri (Olaria), Teixeira de Castro (Bonsucesso), e posteriormente, nas décadas seguintes, Maracanã (1950), Ítalo del Cima (Campo Grande, 1960), e o Luso-Brasileiro (Portuguesa, 1965) são alguns exemplos de estádios que se somam ao Guilherme da Silveira


Anterior à construção do estádio, que ficou popularmente conhecido como “Moça Bonita”, a equipe banguense mandava seus jogos no campo da rua Ferrer , sua primeira casa desde 1906. O terreno que abrigava o campo ficava entre a fábrica de tecidos e a sede oficial do clube. Devido a ótima localização — no coração do bairro — e à crescente urbanização no local, o perímetro foi vendido para a construção de um centro comercial. O então presidente da Fábrica de Tecidos Bangu, Doutor Silveirinha, doou um novo terreno e pagou pela construção do estádio. Como a associação do futebol que era praticado apenas entre funcionários da fábrica e em homenagem ao presidente, definiu-se que o nome da nova casa do Bangu seria “Estádio Proletário Guilherme da Silveira”.

CarioQuiz

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Cariocast – episódio 1

O canhotinha de ouro

Fala, Gérson – Um dos pilares da campanha do tricampeonato mundial da seleção brasileira em 1970, o “Canhotinha” é o nosso convidado para falar sobre o cenário em que se encontra o futebol carioca. Aperte o play e confira o primeiro episódio do podcast que conta tudo sobre o futebol carioca.

Nascido em 1941, no município de Niterói e torcedor do Fluminense. Gérson de Oliveira Nunes teve seus primeiros contatos com a bola nas peladas disputadas na Praia Santa Rosa e não demorou a despertar a atenção dos olheiros. Aos 16 anos de idade, foi convidado a trocar a areia pelo gramado e passou a jogar pelo Canto do Rio, clube de pequeno investimento de sua cidade. A grande visão de jogo e rara maestria nos lançamentos com a “canhotinha” – como ficou conhecido anos mais tarde – levaram o meio-campista a conquistar 28 títulos em sua carreira por Flamengo, Botafogo, São Paulo, Fluminense e seleção brasileira. Entre suas principais conquistas dentro dos gramados estão o título nacional da Taça Brasil de 1968, que hoje se equivale ao Campeonato Brasileiro pelo Botafogo e a Copa do Mundo de 1970, com a seleção canarinha.

O futebol durante a COVID-19

Atletas do Botafogo protestam contra o protocolo de saúde adotado pela FERJ (Fotos: Perfil oficial do Botafogo no Instagram)

Divididas, disputas no alto, empurra-empurra na área antes de cada bola parada, dancinhas coletivas nas comemorações. Cada uma dessas situações que estávamos acostumados a acompanhar a cada domingo deu lugar às lives de cantores e artistas famosos. Com o surto do novo coronavírus fora de controle e com a efetiva instauração da pandemia, o esporte teve que dar uma pausa em todo o mundo. O caos na saúde foi responsável inclusive pelo adiamento dos Olimpíadas de Tóquio, que estava prevista para acontecer de 24 de julho a 9 de agosto desse ano e só será realizada em 2021. Ligas de futebol de todo o mundo foram paralisadas e com a disseminação do Vírus, no Brasil não Foi diferente: paralisação dos estaduais e outros torneios disputados no primeiro semestre do ano.

Na terra da bola, os clubes anteciparam o período de férias dos jogadores e passaram a adotar o home training (treino em casa) como alternativa para os atletas manterem a boa forma física. Mas se por um lado as instituições conseguiram adaptar facilmente a rotina de treinamentos, como fazer para seguir honrando com os altos vencimentos de atletas e até garantir o salário mais modesto dos funcionários que lá trabalham, sem as receitas de bilheteria?

No futebol carioca, não é novidade para ninguém que grande parte dos clubes se encontrava imersa na crise financeira, com acúmulo de dívidas e atraso de salários, antes mesmo do surto da COVID-19 interromper os campeonatos e com isso diminuir a receita dos times. Dos quatro grandes clubes do Rio, nem o Flamengo, que nadava de braçadas, com receita beirando a casa do bilhão em 2019 e um elenco recheado de estrelas, se viu livre dos problemas financeiros. Botafogo, Fluminense e Vasco já há um bom tempo não conseguiam pagar os salários de atletas e funcionários em dia, enfrentaram ainda mais complicações.

Fonte: Globoesporte.com

Coube aos departamentos de marketing, a função de utilizar a criatividade para a geração de novas receitas. Vasco e Fluminense lançaram seus novos uniformes em lives nos respectivos canais do Youtube com opção de doação via chat durante os eventos ao vivo. O Vasco inclusive bateu recorde de vendas de seu novo uniforme , superando Flamengo e Corinthians. Botafogo, assim como o tricolor, venderam ingressos fictícios nas datas de transmissão de seus jogos históricos na TV, para arrecadar fundos que foram revertidos em cestas básicas aos funcionários.

Em meio a tanta incerteza no cenário global, as ligas por todo o globo retomaram suas partidas, adotando protocolos de saúde estabelecidos pelas autoridades locais, com a realização de testagem em massa de todos os profissionais envolvidos. O Campeonato Carioca retornou no fim de junho e teve como campeão o Flamengo, favorito ao título, sem a presença de torcedores no Maracanã. Apesar de a bola ter voltado a rolar, ainda são muitos os desafios a serem superados por clubes, atletas e funcionários até que o COVID seja jogado para escanteio.

Linha do tempo
  • 15/03 – Pausa no futebol por causa da COVID-19

    Ferj anuncia suspensão por 15 dias, mas na sequência, período é prorrogado por tempo indeterminado

  • 06/05 – Casos descobertos entre jogadores no RJ

    No Flamengo, 38 funcionários testaram positivo para COVID-19. Dias depois, o Vasco registrou 16 casos de atletas com o vírus

  • 20/05 – Volta aos treinos

    Flamengo contraria Prefeitura e retoma os treinamentos

  • 06/06 – Impasse para volta do carioca

    Fluminense e Botafogo são contrários à retomada das atividades

  • 18/06 – Retorno do Campeonato Carioca

    A partida entre Bangu x Flamengo marca a volta do futebol no Rio

O campeonato de hoje


Se falamos sobre as glórias passadas do Campeonato Carioca e ressaltamos o brilhantismo esportivo e a magia de uma competição que costumava levar milhares de torcedores ao Maracanã frequentemente, também é preciso reconhecer a crise que o campeonato enfrenta. A realidade de hoje faz com que o passado seja lembrado de uma forma muito mais especial, visto que não há perspectiva para momentos tão gloriosos para a competição como os de antigamente. O torcedor já não vai acompanhar seu time. Se há alguns anos o motivo era a interdição do estádio Mário Filho (que ficou inativo para obras e depois para a disputa da Copa do Mundo do Brasil), hoje (pré-pandemia) ele está aberto e mesmo nos clássicos é comum ver menos de 20 mil espectadores. Se o problema era a distância e o caótico sistema de transporte público no estado do Rio de Janeiro, não cabe mais atribuir a esses problemas a decepcionante queda de público no campeonato. Nem os estádios dos clubes de menor investimento, que tem a capacidade reduzida e são mais propensos a ter uma boa taxa de ocupação, ficam lotados em dias de jogos.


Durante os últimos anos, o Campeonato Carioca tem sido alvo de crítica até dos personagens essenciais para o espetáculo: os jogadores. Em 2015, o atacante Fred, multi-campeão pelos clubes que defendeu e pela Seleção Brasileira, fez duras críticas a competição, após ser expulso em um clássico contra o Flamengo.


De revolucionária a fracassada: conheça a Primeira Liga

Em meio a desgastante relação da dupla Fla-Flu com a FERJ e aos rumores sobre uma possível reedição da extinta Copa Sul-Minas, muito por conta do sucesso da única competição regional que ainda vigora no país, a Copa Nordeste, os clubes começaram a se movimentar para criação de um torneio independente. Este, passaria a ocupar o mesmo espaço dos estaduais no calendário do futebol nacional. Em setembro de 2015, América-MG, Atlético-MG, Athlético-PR , Avaí, Coritiba, Criciúma, Cruzeiro, Figueirense, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Joinville e Paraná assinaram a ata de fundação de uma competição desprendida de federações. Nascia ali a Primeira Liga, que para muitos representava um novo período em nosso futebol.

Após constantes mudanças de posicionamento, a CBF autorizou a realização do torneio, que contou com três grupos de quatro times cada antes da fase eliminatória. Mas, não demorou muito para o CEO, Alexandre Kalil, abandonar liderança da liga, alegando complô de alguns dos times participantes. 

Em campo, O Fluminense se sagrou campeão da edição 2016, o Londrina em 2017 — ano em que alguns dos grandes clubes já haviam preterido o novo torneio. Brigas políticas por fatias de cotas de TV, partidas que tiveram validade para estadual e a nova liga ao mesmo tempo, escalações de times B e a aproximação da Copa do Mundo em 2018 (o que torna o calendário ainda mais apertado) cooperaram para o fim do recém-criado campeonato, que fracassou antes mesmo de se consolidar no calendário brasileiro. Com isso, não restou outra alternativa às equipes cariocas a não ser continuarem participando do criticado Estadual.


Fala, torcedor!

Nesse contexto de desorganização e incerteza sobre o futuro do campeonato, a frase dita pelo atacante Fred repercutiu entre torcedores e jornalistas. Enquanto que para alguns a competição precisa ser preservada pelo seu valor histórico, para outros o torneio regional perdeu sua importância ao longo dos últimos anos e, por isso, precisa ser extinta do pesado calendário brasileiro. Dessa forma, haveria possibilidade da realização de competições mais atrativas para o início da temporada. O próprio Fred, no mesmo dia, sugeriu a volta do extinto torneio Rio – São Paulo.


A crise nas bilheterias em jogos da competição estadual é um reflexo de diversos problemas que contribuem para a desvalorização deste que é o principal torneio dos times cariocas. Para entendermos melhor essa crise, precisamos apontar para todos os fatores que contribuem para o “abandono” por parte dos torcedores: ausência de craques, desnivelamento técnico, supervalorização de outras competições, problemas sociais e a crise econômica no estado. Confira;

Ausência de craques

Até a década de 90, aproximadamente, o domingo de um torcedor tinha uma atmosfera diferente dos outros dias da semana. Era dia de Maracanã, estádio que, além de ser o palco do futebol mundial, simbolizava a competição dos times cariocas. Muitos outros motivos, entretanto, arrastavam multidões ao Maracanã e aos outros estádios. A começar pela importância da competição que era, até então, a mais importante do primeiro semestre para os clubes. Um campeonato nivelado pela qualidade técnica das grandes equipes e dos clubes que hoje são considerados pequenos. Dentro de campo, craques desfilavam e exibiam seus talentos. Craques nacionais, mundiais e que configuravam o elenco da seleção brasileira. É óbvio que o torcedor quer ver de perto os melhores jogadores do seu time. Tente imaginar a alegria de quem teve a oportunidade de ir ao Maracanã, ou mesmo ao Moça Bonita, por exemplo, para ver jogar nomes como os de Zico, Garrincha, Rivelino, Roberto Dinamite e Ademir da Guia.

“A gente tem casos de gigantes do futebol mundial que estão comprando garotos de 13, 14 anos. Porque quanto mais novo o jogador for, teoricamente fica mais barato”, revelou Marco.

Com o passar dos anos e uma nova configuração no cenário do futebol nacional e mundial, é muito improvável que o torcedor consiga ver um craque defender seu clube de coração por muito tempo. Isso se deve pelo fato de o futebol brasileiro ter se transformado numa espécie de “celeiro” de matéria-prima para o futebol mundial, sobretudo o europeu. Os clubes estrangeiros compram os jovens talentos na maioria das vezes antes mesmo desses jogadores completarem os 18 anos. Esse problema, entretanto, não é uma peculiaridade do futebol carioca, mas sim de times de todos os outros estados, que não conseguem competir financeiramente com equipes da Europa e até mesmo da Ásia, que não tem tanta tradição no futebol. Sobre essa nova configuração, Marco Moreira, coordenador de futebol da equipe sub 15 e sub 17 da Portuguesa do Rio, comenta. “A gente tem casos de gigantes do futebol mundial que estão comprando garotos de 13, 14 anos. Porque quanto mais novo o jogador for, teoricamente fica mais barato. Então para eles não terem que pegar um atleta já formado por um valor muito caro, eles pegam os atletas mais novos. Isso é uma tendência do mercado que está em permanente expansão”, relatou Marco, que também tem passagem no futebol de base do Flamengo.

Desnivelamento técnico

Todavia, apesar da ausência de craques e ídolos, os grandes clubes do futebol do Rio de Janeiro ainda estão num patamar técnico e financeiro muito acima das outras equipes de menor investimento. Vasco, Botafogo, Flamengo e Fluminense costumam nadar de braçadas no Campeonato Carioca. Os times menores, em sua grande maioria, não conseguem montar elencos competitivos para a disputa do Regional. O Bangu A.C foi o último campeão carioca diferente dos quatro grandes, em 1966. Apesar de não se consagrarem campeões, até o final da década de 80 os clubes menores faziam frente aos grandes. O mesmo Bangu foi vice-campeão na edição de 1985 – ano em que disputou a final do Campeonato Brasileiro- e terceiro colocado dois anos depois, na edição de 1987. A última vez que um clube pequeno disputou a final do Campeonato Carioca foi o Madureira, em 2006. A equipe do subúrbio carioca foi derrotada pelo Botafogo e ficou com o vice-campeonato. Desde então os clubes considerados pequenos garantiram apenas dois títulos: a Taça Rio de 2015 e 2016 (conquistada por Boavista e Volta Redonda, respectivamente). A falta de títulos ressalta a grande inferioridade desses times em comparação aos quatro grandes. Fato que torna o campeonato desinteressante para o torcedor, que deixa de ir ao estádio pela previsibilidade do torneio.

Fonte: Wikipédia
Supervalorização de outros campeonatos

Outro fator muito importante contribui para a crise do Campeonato Carioca: a supervalorização dos campeonatos nacionais e internacionais, tornando os regionais, de uma forma geral, uma espécie de extensão de pré-temporada para os clubes, que passaram a priorizar as outras competições. Em 2020, Botafogo e Vasco da Gama sequer se classificaram às fases finais da Taça Guanabara, justamente por não utilizarem seus principais atletas no início da competição. Enquanto o time de General Severiano escalou “força máxima” somente a partir da terceira rodada, o Cruz-Maltino intercalou sua escalação titular com a reserva durante os primeiros jogos. Os times foram criticados por seus torcedores, que mal compareciam ao estádio.

Apesar das eliminações na primeira fase do Campeonato Carioca, o prejuízo financeiro não foi tão significativo aos cofres dos clubes. Ambos deixaram de faturar apenas 1 milhão de reais caso levantassem o troféu do primeiro turno (posteriormente, após a crise causada pela COVID-19 e os descontos anunciados pela Ferj sobre a premiação prevista, o valor foi reduzido à 500 mil).

O valor, para a realidade do futebol nacional, é considerado baixo mesmo para os times que passam por uma situação financeira delicada, como os dois citados anteriormente. Esses clubes optam por uma preparação mais eficaz no início da temporada para evitar uma sobrecarga física em seus principais jogadores, ocasionado lesões que irão, possivelmente, afastá-los de jogos mais importantes em competições que pagam um valor muito mais significativo. Confira abaixo a premiação dos principais campeonatos nacionais e internacionais que os clubes podem participar ao longo da temporada:

(Arte: Pedro Barros)
Problemas sociais

Além de todos os fatores já citados até aqui para justificar o baixo público nos estádios em jogos do Campeonato Carioca, é necessário apontar também alguns problemas sociais que ajudam a entender a crise de bilheterias. Primeiro vamos falar sobre a falta de segurança dentro e fora dos estádios. Segundo o sociólogo Maurício Murad, em entrevista ao jornal Lance, mais de 70% dos torcedores que deixaram de ir aos estádios alegaram que o principal motivo é a insegurança que reina nas cidades. Entende-se como insegurança pública diversos casos de violência e criminalidade, ou seja, tudo aquilo que representa risco à integridade física e/ou psicológica do cidadão. De acordo com dados divulgados pelo Instituto de Segurança Pública, o ISP, o estado do Rio de Janeiro teve, entre janeiro e abril de 2019, recordes de roubo de rua e mortes ocasionados por confrontos com a polícia. Ao todo foram 558 mortos pela força de segurança pública e 44.698 roubos de celular a transeuntes ou em coletivos.

Os altos números que registram a insegurança no estado do Rio também foram a analisados por Murad. “Os índices de violência são assustadores e têm atingido em geral os negócios e as atividades econômicas, inclusive o futebol. O cidadão de bem está assustado, a polícia sucateada, e, infelizmente, a impunidade ainda reina”, declarou o autor do livro “A violência no Futebol: Novas Pesquisas, Novas Ideias, Novas Propostas”

Diante deste cenário de insegurança, muitos torcedores optam por acompanhar o seu time de coração apenas pela televisão. Em 2019, o SporTV, canal esportivo da Globosat, um braço do Grupo Globo de Televisão, foi o mais visto entre os canais pagos no Brasil.

A violência dentro do estádios e nas mediações dos mesmos é, infelizmente, um retrato dos problemas com a falta de segurança que assola a sociedade. A diferença fica por conta do policiamento que é feito através do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios, o Gepe. A unidade é regida pelo Estatuto do Torcedor, uma espécie de manual que surgiu a partir de lei criada em 2003 com o objetivo de reservar a segurança e a comodidade do torcedor, entre outros. Apesar da tentativa de assegurar os direitos do torcedor e ter um policiamento especial para isso, um estádio de futebol, sobretudo no Rio de Janeiro, ainda está longe de ser um lugar seguro para quem apenas quer apreciar uma partida de futebol.

No Campeonato Carioca de 2019 foram registrados vários confrontos entre torcidas adversárias. Na semifinal da Taça Guanabara, a briga foi envolvendo as torcidas de Flamengo e Fluminense, times que brigavam por uma vaga na final. A confusão ocorreu nos arredores do Maracanã e foi marcada por apedrejamentos e tiros. Já na final da Taça Rio, o enfrentamento foi entre torcedores de Vasco e Flamengo e ocorreu em diversos pontos do estado do Rio de Janeiro, também envolvendo troca de tiros entre os torcedores adversários. Os dois casos são apenas dois de muitos outros que aconteceram nesta e em outras edições do campeonato. O grande número de episódios de violência no futebol carioca corrobora uma triste realidade: o Brasil é o país que mais tem mortes ligadas ao futebol no mundo.

Crise econômica

Outro motivo para a queda significativa de público no Campeonato Carioca é a grave crise econômica que assola o estado do Rio de Janeiro. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, segundo noticiou o portal G1.com, a taxa de desemprego no estado durante o primeiro trimestre de 2019 atingiu 15,3% da população total. Isso significa 1,4 milhão de pessoas sem carteira assinada no estado. Os dados confirmam que esse número vem aumentando gradativamente nos últimos anos e com a crise da COVID-19 a tendência piorar. Em 2016 o desemprego atingia 10% da população no primeiro trimestre. A porcentagem aumentou progressivamente até atingir os dados atuais, o menor em números absolutos desde 2012. Com pouco dinheiro, é evidente que o carioca gasta menos com o seu lazer, entre eles, ir a um estádio de futebol, por exemplo.

Os números são bem diferentes em estados como São Paulo e Minas Gerais, dois grandes centros financeiros para o país, assim como o Rio de Janeiro. A taxa de desemprego no primeiro trimestre de 2019 diminuiu em relação ao mesmo período de 2018 no estado mineiro (12,6% para 11,2%) , assim como no estado paulista (14% para 12,4%).

Soma-se a essa grave crise do estado, o valor elevado de ingressos para jogos do Campeonato Carioca. Em partidas disputadas entre times de menor expressão, o valor varia entre R$ 10 e 30. Já para disputas entre equipes pequenas contra equipes grandes, com mando do campo para o primeiro, o ingresso oscila entre R$ 20 e R$ 60, enquanto que com mando do time grande, a tarifa gira entre R$ 20 e R$ 120, margem que serviu também para os clássicos. 

“Quando havia jogos de times grandes no Moça Bonita o ingresso variava entre 40 e 60 reais, o preço cheio, só que eu não tinha esse dinheiro pra pagar. Mas nem por isso eu deixava de ir para os jogos. Ia cedo para tentar acompanhar a chegada dos jogadores […] e então eu ia pra casa pra assistir o jogo pela televisão. Quando chegava os 20 minutos do segundo tempo eu ia pro estádio novamente”, relembrou Lucas.

Os valores praticados na comercialização dos bilhetes afastou torcedores dos estádios. Como é o caso do Lucas Paiva, torcedor do Flamengo e vendedor de peças automotivas e morador de Bangu. O jovem relata que quando estava desempregado não podia pagar pelo ingresso para assistir aos jogos direto do estádio. Lucas também conta qual a única forma de ter contato com os jogadores naquela ocasião.

“Quando havia jogos de times grandes no Moça Bonita o ingresso variava entre 40 e 60 reais, o preço cheio, só que eu não tinha esse dinheiro pra pagar. Mas nem por isso eu deixava de ir para os jogos. Ia cedo para tentar acompanhar a chegada dos jogadores e tentar pegar um autógrafo ou tirar um foto. E então eu ia pra casa pra assistir o jogo pela televisão. Quando chegava os 20 minutos do segundo tempo eu ia pro estádio novamente, porque eu moro perto, cerca de 10 minutos caminhando. Geralmente eles abriam o portão principal no finalzinho do jogo e eu conseguia entrar e pegar os últimos cinco minutos. Quando não abriam, eu esperava o jogo acabar para conseguir entrar numa zona mista do estádio e tirar fotos com alguns jogadores. Tenho foto com vários”, relembrou Lucas.

Sobre o alto valor dos ingressos, o economista Rodolpho Tobler, formado pela UERJ e Mestre em Economia Empresarial e Finanças pela FGV, comenta sobre a relação entre o desemprego e o lazer do cidadão.

“Na medida que o número de desempregados aumenta, refletindo em uma menor renda e num menor poder de compra, isso afeta diretamente o lazer da população, porque esse não é um bem essencial pra necessidade da cidadão. O que a gente observa é que em momentos de dificuldade, em que o indivíduo está com a renda mais restrita, ele acaba dedicando essa renda, de uma forma racional, para o consumo de bens essenciais. Aí entra a questão do supermercado: alimentação, bebida, material de higiene e limpeza. Então esse segmentos acabam sendo prioritários… Então há uma relação quase que direta do desemprego com o consumo do lazer”, explicou Rodolpho.

O economista também comentou sobre os valores cobrados pelos ingressos para os jogos:

“Isso (o alto valor dos ingressos) não necessariamente afasta o público de um modo geral dos estádios. Acaba afastando realmente o torcedor de uma renda um pouco mais baixa, que é quem está sendo afetado mais diretamente nos últimos anos com a grande recessão que a gente observou no Rio de Janeiro de uma maneira mais profunda”, esclareceu Rodolpho.

Cariocast – episódio 2

Fala, economista!

Fala, economista! Para o nosso segundo episódio da série Cariocast, trouxemos o economista Rodolpho Tobler para nos falar mais sobre a crise do estado do Rio de Janeiro,  a comparação com outros estados da região Sudeste e como esse cenário de dificuldade financeira está afetando o futebol carioca. Aperte o play e confira o primeiro episódio do podcast que conta tudo sobre o futebol carioca

Formado pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, a UERJ, e Mestre em Economia Empresarial e Finanças pela Fundação Getúlio Vargas, a FGV, Rodolpho também fala sobre o agravamento da crise causado pela COVID-19 e faz uma projeção para os próximos meses. Assuntos como alta no preço dos ingressos e o poder de compra do cidadão durante a crise também são abordados pelo especialista e nos ajudam a entender os possíveis motivos para a queda de público nos estádios durante o Campeonato Carioca nos últimos anos.

Aspecto financeiro

A emissora Globo foi, durante décadas, a detentora dos direitos de transmissão do Campeonato Carioca (Arte:Christian Fuentes)


O Campeonato Carioca é uma competição futebolística centenária no estado do Rio de Janeiro e foi, por muitos anos, o principal torneio no país (ao lado do Campeonato Paulista). Fato que se explica pela ausência de um campeonato nacional até o final da década de 50 (o primeiro torneio aconteceu em 1959 e teve o nome de Taça Brasil). Hoje, entretanto, o campeonato conhecido como o mais “charmoso” do Brasil tem relevância muito menor para os clubes mais ricos do Rio de Janeiro. Mas se para as equipes consideradas grandes o torneio é “desprezado” quando comparado com outras competições do pesado calendário brasileiro, ainda é a principal fonte de sobrevivência para os times de menor investimento.


Vitrine para negociação de jogadores da base

O primeiro ponto ser destacado é a visibilidade que o Cariocão proporciona aos clubes que participam. E cada equipe busca formas de lucrar através dessa oportunidade, valorizando a sua marca e os seus principais ativos: atletas formados na base. Sendo assim, o Campeonato Carioca permite que os times aumentem o fluxo de caixa através da “propaganda” desses atletas. Como não possuem o mesmo espaço na imprensa que Vasco, Flamengo, Botafogo e Fluminense, os times considerados pequenos utilizam os quatro grandes do estado como vitrine para seus jovens jogadores e até mesmo para alcançar outros mercados, como o europeu e o asiático. Desta forma, mesmo após venderem os seus jogadores, ainda é possível manter um percentual em caso de uma nova negociação desses atletas para outras equipes. Foi o que revelou Marco Moreira, Supervisor de futebol das equipes sub-15 e sub-17 da Portuguesa. “O trabalho dos times de menor investimento, como a Portuguesa, é colocar o atleta em um time grande, que é uma vitrine muito maior, e desse time grande ele vai ser vendido por uma quantia maior. Ele vai ter mais visibilidade e mais valor de mercado. O trabalho é esse. Nós temos atletas da base da Portuguesa que estão nos profissionais de outros clubes. Em 2018 a gente bateu na trave. Nós temos um lateral direito que foi pro Vasco (Nathan Santos) e que ia ser vendido para o Valência – ESP, por um milhão de euros (cerca de R$ 6,1 milhões na cotação atual). A Portuguesa ficaria com 30% desse valor. A negociação estava bem adiantada e quando estava praticamente fechada, uma das partes desistiu”, explicou Marco, que também teve passagem atuando pelos profissionais do Flamengo.

Além de ajudar na venda de jogadores, clubes como a Portuguesa também fazem o processo inverso e usam a visibilidade do campeonato para atrair jogadores e contratá-los. É que nos revela Cassiano Carvalho, assessor de imprensa do Macaé. “Quando se fala para o jogador que é para vir jogar o Campeonato Carioca, esse jogador troca uma equipe grande ou média do Nordeste, por exemplo, para vir jogar por uma equipe de menor investimento no Rio….E o Campeonato Carioca é sim um atrativo. Pois os jogadores sabem que, vindo para uma série A de Carioca, mesmo que para um time pequeno, fazendo uma boa competição eles vão conseguir um contrato para o segundo semestre, talvez até numa equipe grande, como aconteceu esse ano com os jogadores do Madureira (que foram contratados pelo Vasco para o restante da temporada)”.

No entanto, a principal renda é proveniente da cota de TV paga pela Globo aos clubes que disputam o Campeonato Carioca. Os valores pagos às equipes podem chegar a R$ 18 milhões, de acordo com o contrato assinado entre 2017 e 2024. O montante total que a emissora gasta com premiações, entretanto, não é divido igualmente para todos os times. De acordo com o Atlas da Globo, existem cinco blocos de times, mas cada equipe pode transitar entre um bloco e outro de acordo com a posição na edição do ano anterior. Isso significa que quanto melhor for a campanha do time, maior será o valor recebido no ano seguinte. A exceção fica por conta do bloco que contém os times considerados grandes, que independente da posição, recebem a totalidade dessa verba de 18 milhões. Até a edição de 2019, esse montante era de 15 milhões, mas há previsto em contrato o acréscimo de 20% anual por correção de inflação. Veja como ficou cada bloco no Campeonato Carioca de 2012, com base na disputa da competição de 2019:

Os valores divulgados correspondem aos mesmos números praticados em 2019 acrescidos de 20% da inflação (Arte: Pedro Barros)

Além destes valores, ainda há o dinheiro pago por conquistas na competição. Até o ano de 2019, o campeão geral desembolsava 3,5 milhões. O prêmio poderia aumentar até chegar a 5,5 milhões, caso a mesma equipe vencesse os dois turnos anteriores à grande final (Taça Guanabara e Taça Rio, 1 milhão cada).

Já para a competição de 2020 houve uma grande redução nos valores pagos pela Globo e pela FERJ às equipes participantes do torneio, devido a ausência do Flamengo nas transmissões da edição deste ano. A emissora deixou em aberto os valores a serem quitados referentes a cada bloco, com exceção dos 18 milhões fixos aos quatro maiores clubes do estado. As demais equipes não sabiam exatamente quanto iriam receber até o fechamento desta reportagem (muitos sites estipularam valores pagos e com descontos significativos a estes clubes, mas por falta de solidez no repasse desses dados, preferimos não citar valores sem a convicção da veracidade destes números). Já a entidade organizadora não exitou e reduziu a premiação do Campeonato Carioca em 45%. Por isso, o Flamengo – atual campeão – levou para casa apenas R$ 2 milhões dos R$ 3,5 pagos nos anos anteriores

Há duas formas de interpretar os valores totais pagos pelo Campeonato Carioca. A primeira – e mais provável de ser adotada por quem paga-, é positiva visto que o Carioca é o segundo regional mais valioso do Brasil, atrás somente do Campeonato Paulista. No Rio, o prêmio máximo que uma equipe poderia faturar era de R$ 20,5 milhões em 2019, enquanto que em São Paulo, o campeão no mesmo ano poderia ganhar até R$ 22 milhões. Em ambos os estados, esses valores só poderiam ser alcançados se o campeão fosse um dos oito time de grande investimento.

A segunda forma de interpretar esses dados aponta para uma contestação dos valores repassados aos clubes. Isso porque mesmo sendo um dos estaduais que melhor paga no país, a quantia pode ser considerada baixa dada a importância e o alcance da transmissão de jogos. Para efeitos comparativos, a edição de 2019 mesmo tendo exibido duas partidas a menos do que a edição de 2018 (15 contra 17), apresentou um aumento de 1,36 ponto na média de audiência do Ibope, o que significa cerca de 160 mil pessoas a mais sintonizadas durante os jogos. Outro fato aponta para uma subvalorização financeira da competição carioca. De acordo com dados divulgados pela Tv Globo em 2019 e compilados em parceria com o jornalista Rafael Alaby do Torcedores.com, o Campeonato Carioca e a Copa do Brasil tiveram resultados de audiência muito parecidos durante o citado ano. Foram 15 jogos transmitidos e 26 pontos no Ibope de média em cada competição. A diferença ficou por conta dos investimentos para cada torneio. A competição nacional poderia pagar mais do que 300% a mais do que a competição regional, podendo chegar até R$ 67,3 milhões ao vencedor contra os R$ 20,5 milhões já citados.

Globo rescinde contrato de transmissão e ameaça continuidade do campeonato

A edição de 2020 do Campeonato Carioca entrará para a história da competição estadual mais do que qualquer outra em décadas. Mas, infelizmente de uma forma negativa. Não bastasse todos os problemas citados no capítulo anterior, que tornam o Cariocão cada vez menos atraente, agravados pelos impactos da pandemia causada pela COVID-19, um acontecimento polêmico colocou em xeque a continuidade do torneio. No dia 02 de julho, clubes, torcedores e imprensa foram surpreendidos pelo anúncio de rescisão contratual dos direitos de transmissão do Grupo Globo sobre o Campeonato Carioca. Embora a notícia tenha sido uma grande surpresa, a emissora já vinha demonstrado insatisfação com a organização da atual edição por divergências com o Clube de Regatas do Flamengo e com a Federação de Futebol do estado. Para melhor contextualizar, vamos entender a origem da discordância entre a emissora e as demais partes.

Tudo começou com um impasse entre Globo e Flamengo, que já se arrastava desde o ano passado, por conta da renovação sobre os direitos de transmissão dos jogos do clube Rubro-Negro. A equipe da Gávea teve seu contrato encerrado em 2019, diferente das demais equipes que tinham contrato vigente até 2024. O presidente do clube carioca, Rodolpho Landim, entendia que os R$ 18 milhões pagos a Vasco, Fluminense e Botafogo não eram valores justos dada a importância da equipe vermelha e preta em termos de” audiência” e “demanda” para a emissora, segundo declarou o próprio presidente em entrevista à Veja. Confira a nota divulgada no Instagram oficial do clube:


Confira um trecho da nota oficial da Globo:

“Há um enorme interesse da Globo nos direitos do Flamengo para o Campeonato Carioca de 2020, para todas as plataformas – TV aberta, TV paga, digital e PPV. Fizemos uma proposta ao Flamengo na mesma linha que fizemos aos outros clubes do Rio de Janeiro, respeitando o valor de mercado que a competição tem, mas infelizmente ainda não conseguimos chegar a um acordo. Do nosso lado, estamos abertos ao diálogo, comprometidos com a proposta de chegar a um acordo que seja bom para todos: clubes, federação, marcas, plataformas e para o torcedor. Nos últimos anos, nos engajamos em diversas negociações de direitos em que miramos o equilíbrio e a meritocracia, tanto comercial quanto esportiva. Acreditamos que demos passos importantes em direção a um futebol brasileiro mais equilibrado e consistente. Abrir mão desta busca seria, inclusive, um retrocesso na nossa evolução de um sistema de valoração de direitos que olha o todo, de maneira mais coletiva".

No dia 18 de junho, no entanto, uma Medida Provisória assinada pelo presidente Jair Bolsonaro viria a mudar drasticamente o Campeonato Carioca. O texto da MP informa que apenas os clubes mandantes têm direito de escolha de arena e transmissão de seus jogos. Antes, a lei dividia as escolhas entre as das entidades participantes do evento, tendo cada uma 50% do direito de decisão. Confira o documento:

O C.R do Flamengo enxergou então uma brecha e transmitiu o duelo contra o Boavista ao vivo pelo seu canal oficial do YouTube, a FlaTV. Em partida válida pela 5° rodada da Taça Rio, no dia 01 de julho. Diante desse ocorrido, o Grupo Globo se sentiu violado no que diz respeito a sua exclusividade dos direitos de transmissão do Campeonato Carioca, defendendo sua interpretação de que a MP de Bolsonaro não poderia alterar um contrato já redigido e protegido pela Constituição. A emissora decretou, então, o fim do contrato com a Ferj e com os clubes. A entidade também considerou que a Federação foi conivente com a decisão tomada pela equipe da Gávea. Confira na íntegra o comunicado da Globo:

"A Globo anunciou hoje que não vai mais transmitir o Campeonato Carioca. A emissora rescindiu o contrato que mantinha com a Federação de Futebol do Rio de Janeiro e com os Clubes, mas manterá os pagamentos desta temporada. No entendimento da Globo, o contrato foi violado ontem, quando a FlaTV exibiu ao vivo a partida entre Flamengo e Boavista. De acordo com o contrato, a Globo tinha exclusividade na transmissão dos jogos do Campeonato Carioca. A Federação e onze Clubes assinaram o compromisso. A exceção foi o Flamengo. Na ocasião da assinatura e por várias temporadas em que o contrato foi cumprido, a legislação brasileira previa que, para a transmissão de qualquer partida, era necessária a obtenção de direitos dos dois Clubes envolvidos. Legalmente, ninguém poderia transmitir os jogos do Flamengo no Carioca e só a Globo poderia transmitir os demais. No dia 18 de junho, a Presidência da República editou a Medida Provisória 984, passando ao mandante dos jogos os direitos de transmissão. O Flamengo se baseou nessa MP para transmitir a sua partida ontem no Maracanã. A Globo entende que a Medida Provisória não poderia alterar um contrato celebrado antes de sua edição e protegido pela Constituição. Como a Federação de Futebol do Rio de Janeiro e os demais Clubes não foram capazes de garantir a exclusividade prevista no contrato, não restou à Globo outra alternativa além da rescisão e o encerramento das transmissões dos jogos do Carioca - incluindo os três jogos de hoje que encerram a quinta rodada da Taça Rio e que seriam exibidos no Sportv e no Premiere. A Globo é parceira e incentivadora do futebol brasileiro há muitas décadas e entende a importância do esporte para Clubes, jogadores, marcas e torcedores. Exatamente por isso, apesar da decisão de rescindir o contrato imediatamente, a Globo está disposta a fazer os pagamentos restantes desta temporada, em nome da sua parceria histórica com o futebol e da sua boa relação com as equipes. Mas acredita que o futebol só será capaz de vencer as inúmeras dificuldades com planejamento e segurança jurídica para aqueles que investem altas quantias nesse negócio tão importante para o Brasil e para os brasileiros."

Neste cenário de tanta incerteza, potencializado principalmente pelos reflexos da pandemia causada pela COVID-19, o futuro se torna obscuro. Clubes, imprensa e torcedores não sabem ao certo como vai ser o Cariocão de 2021, ou até mesmo se vai haver uma nova edição caso não haja um acordo entre a Globo, a Ferj e as equipes participantes do torneio. O rompimento unilateral por parte da Rede Globo, no campeonato de 2020, fez com que os Fla-Flus da final da Taça Rio e do Campeonato Carioca, respectivamente, fossem transmitidas pela FluTV e pelo Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). A emissora comanda pelo empresário Sílvio Santos, no entanto, ainda não definiu se vai comprar também os direitos de transmissão para a temporada de 2021. Até o momento, o que temos de concreto é pura especulação de interesse, tanto do SBT – que tem preferência pelas partidas decisivas -, quanto de outros canais, como RedeTV!.

Este é mais um capítulo triste na história de uma competição que – além de legados deixados para a sociedade – proporcionou alegrias a milhares de torcedores do Rio de Janeiro e de todo o Brasil.

Um comentário sobre “A trajetória do campeonato que simboliza a luta pela igualdade social e racial no futebol brasileiro”

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